Galeria de ex-presidentes no Planalto tem erros em nomes e datas históricas

A galeria de fotos dos ex-presidentes da República, localizada no salão principal do Palácio do Planalto, apresenta uma série de erros e inconsistências históricas nas informações exibidas sob os retratos. As imprecisões envolvem grafias de nomes e datas de nascimento de diversos ex-chefes de Estado brasileiros.

Um dos equívocos está na identificação de Getúlio Vargas. Segundo a galeria, ele teria nascido em 19 de abril de 1883. No entanto, o Centro de Referência de Acervos Presidenciais, do Arquivo Nacional — fonte oficial que reúne dados biográficos dos presidentes —, registra seu nascimento em 1882.

As datas estão inscritas logo abaixo das fotos, todas em preto e branco, exceto a do presidente em exercício, que é colorida.

No caso de Fernando Collor de Mello, a falha está na grafia de seu nome do meio. Na galeria, aparece como “Afonso”, com um “f” apenas. Contudo, a forma correta, presente em registros oficiais como os do Senado e do Arquivo Nacional, é “Affonso”, com dois “f”.

Collor foi presidente entre 1990 e 1992, mas sofreu impeachment após denúncias de corrupção. Em 2023, voltou ao centro das atenções após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 8 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em processo ligado à Operação Lava Jato.

Outro erro envolve João Goulart, o Jango, deposto pelo golpe militar de 1964. A galeria exibe 1918 como seu ano de nascimento. Porém, o Instituto João Goulart afirma que ele nasceu em 1919. Segundo a entidade, uma segunda certidão foi emitida a pedido do pai de Jango para que ele aparentasse ter idade suficiente para ingressar na Faculdade de Direito de Porto Alegre. Assim, embora o ano de 1918 apareça em documentos oficiais, trata-se de uma controvérsia histórica.

A reportagem comparou os dados da galeria com os registros do Arquivo Nacional, do site oficial do Palácio do Planalto e de outros órgãos federais. A Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) reconheceu os erros e afirmou que eles foram causados por falhas de digitação, prometendo corrigir as informações.

A galeria foi restaurada em 2024, após ter sido vandalizada nos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes. Na ocasião, as fotos dos ex-presidentes foram arrancadas, rasgadas e jogadas no chão.

A nova versão da galeria foi reinaugurada um dia após o segundo aniversário dos ataques, com visita do presidente Lula (PT). Ele defendeu que a galeria "conte a história" dos presidentes, incluindo informações como o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a ascensão de Michel Temer (MDB). A primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, afirmou que cada retrato terá um QR Code com informações adicionais. O Planalto, no entanto, ainda não confirmou a implementação dos códigos.

A Dilma foi eleita, reeleita e sofreu um impeachment por um golpe. Esse aqui [Temer] não foi eleito, assumiu com o impeachment da Dilma. E esse aqui [Bolsonaro] foi eleito com base em mentiras. Isso é o que precisa estar ali”, disse Lula durante a visita.

O retrato de Dilma Rousseff também contém erro: seu nome correto é Dilma Vana Rousseff, mas a galeria traz “Vanna”, com duas letras “n”.

Outros ex-presidentes também tiveram dados registrados de forma incorreta:

  • Costa e Silva, presidente durante a ditadura militar, aparece com o ano de nascimento como 1902. O correto, segundo o Arquivo Nacional, é 1899. O próprio general alterou o dado para entrar no Exército, de acordo com o Atlas Histórico da Fundação Getúlio Vargas.

  • Afonso Pena, presidente de 1906 a 1909, aparece grafado como “Affonso”, com dois “f”, quando o correto é com apenas um.

  • Artur Bernardes, que governou entre 1922 e 1926, tem seu nome grafado com “h” — “Arthur” —, erro frequente, mas incorreto segundo registros históricos.

  • Campos Salles (1898–1902) tem a data de nascimento errada na galeria: 15 de fevereiro de 1841, quando o correto é 13 de fevereiro.

  • Hermes da Fonseca, presidente entre 1910 e 1914, teve sua data de nascimento anotada como 9 de maio de 1855, mas o correto é 12 de maio.

A correção das informações históricas e biográficas dos ex-presidentes, ainda que simbólica, é um gesto importante de respeito à memória institucional do país.

Foto: Gabriela Biló/Folhapress/Arquivo