
PSDB prepara fusão com Podemos para tentar voltar ao jogo após definhar
PSDB deve se fundir ao Podemos e mira federação com Solidariedade para tentar se reposicionar no cenário nacional
Após tentativas frustradas de fusão com grandes partidos, o PSDB deve optar por um caminho mais viável: uma união com siglas de menor porte. Na reta final do prazo estipulado pela cúpula tucana para decidir o futuro da legenda, a expectativa é que, nas próximas duas semanas, seja anunciada a fusão com o Podemos.
A estratégia prevê uma reestruturação em etapas. Após a união com o Podemos, o plano é formar uma federação com o Solidariedade, numa tentativa de reposicionar o PSDB como uma força de centro no cenário político, oferecendo uma alternativa à polarização entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A movimentação tem como objetivo preservar a identidade histórica do PSDB, evitando que o partido seja absorvido por siglas maiores. Ainda assim, a decisão gera tensão interna e ameaça provocar a saída dos dois únicos governadores ainda filiados: Eduardo Leite (RS) e Eduardo Riedel (MS), que cobram maior estrutura para enfrentar as eleições de 2026.
Os articuladores da fusão tentam manter ambos no partido com a promessa de que a nova legenda terá um fundo eleitoral e partidário mais robusto do que o de siglas como Republicanos, MDB, PSD e PP.
“Estamos prestes a construir um novo caminho para o centro democrático brasileiro, para os milhões de eleitores que não se sentem representados nem pelo lulopetismo, nem pelo bolsonarismo”, afirmou o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), presidente do Instituto Teotônio Vilela.
Abril foi definido como prazo final para a decisão. A medida busca estancar o processo de encolhimento da legenda, que perdeu protagonismo na oposição ao PT com a ascensão de Bolsonaro e foi abalada por denúncias contra seus principais líderes na Operação Lava Jato.
O contraste com o passado é gritante. Em 1998, o PSDB elegeu 99 deputados federais, sete governadores e contava com 16 senadores. Na última eleição geral, sem sequer lançar candidato próprio à Presidência, o partido conquistou apenas 13 deputados, três governadores e nenhum senador. A eleição municipal de 2024 foi a pior da história da sigla.
Na tentativa de sobreviver, o PSDB buscou alianças diversas: cogitou federações ou fusões com partidos de esquerda, como o PDT, e com siglas de centro, como o MDB e o PSD. Mas impasses estaduais atrapalharam. Aécio não conseguiu avançar com o PSD em Minas Gerais, e o presidente nacional da sigla, Marconi Perillo, não teve êxito em se aproximar do MDB em Goiás. Também houve resistência ideológica em relação ao PDT, que integra o governo Lula.
Outra opção considerada foi o Republicanos, proposta defendida por Riedel, que chegou a se reunir com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A negociação, porém, esfriou diante da preferência do Republicanos por absorver o PSDB, mantendo seu próprio nome e programa.
Já o Podemos demonstrou disposição para negociar uma reformulação conjunta, incluindo contribuições de economistas históricos do PSDB na construção de um novo programa partidário. A negociação, liderada por Perillo e pela deputada Renata Abreu (SP), presidente do Podemos, deve resultar na criação provisória da nova sigla, chamada #PSDB+Podemos, com Renata na presidência. O nome definitivo será definido posteriormente.
Também está praticamente selada a federação com o Solidariedade. Já a possibilidade de federação com o Republicanos é considerada remota tanto por líderes tucanos quanto por integrantes do Republicanos, que já recusaram alianças semelhantes com o PP e o União Brasil para preservar sua autonomia — ainda mais com a possível chegada de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara.
A decisão de seguir com partidos menores pode acelerar a debandada de filiados em busca de estruturas mais robustas. Eduardo Leite já sinalizou que deve se transferir para o PSD, onde poderia assumir o controle do diretório gaúcho. Ele afirmou que só tomará uma decisão após o desfecho das negociações, previsto para o fim de abril.
Riedel, por sua vez, avalia convite do Republicanos e pode levar consigo quase um quarto da bancada tucana na Câmara e mais da metade das prefeituras da legenda, especialmente em Mato Grosso do Sul, onde o PSDB comanda 79 municípios.
“Se você não tiver tempo de TV, não atinge toda a população. E num estado grande como o nosso, isso é essencial para qualquer campanha”, destacou o deputado Dagoberto Nogueira (PSDB-MS).
O ex-governador Reinaldo Azambuja, tesoureiro nacional do PSDB, disse que a legenda ainda aguarda propostas formais tanto do Republicanos quanto do Podemos. “Queremos construir um projeto nacional, e isso não se faz sozinho. Ainda há possibilidade de os três caminharem juntos”, afirmou.
Para conter a debandada e atrair novos quadros, PSDB e Podemos elaboraram um estudo indicando que a nova legenda terá mais fundo partidário que o MDB e o PSD, e mais recursos eleitorais que o Republicanos. Caso a federação com o Solidariedade se confirme, o grupo poderá contar com 33 deputados federais, sete senadores e três governadores — números que permitiriam ao novo partido disputar espaço real no tabuleiro de 2026.
Foto: PSDB no X/Divulgação/@PSDBoficial no X