O auditório da Escola do Legislativo de Sergipe (Elese) foi palco, nesta quinta-feira (29), de mais uma edição do projeto “Quintas Negras”, desta vez com o tema “Mediação de Conflitos na Escola – A Prática do Diálogo e da Convivência”. A convidada foi a Doutora em Educação Adriane Damascena, que compartilhou com alunos dos Centros de Excelência Dr. Jugurta Barreto de Lima e Tobias Barreto, reflexões e práticas sobre a importância do diálogo como ferramenta para promover ambientes escolares mais inclusivos e respeitosos.

A palestrante

Adriane Damascena é graduada pela Universidade Federal de Pernambuco, com mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Goiás nas áreas de Educação e Geografia. Atualmente, atua como professora da rede estadual de Sergipe e está à frente do Serviço de Projetos em Direitos Humanos (SEPEDH), no Departamento de Apoio ao Sistema Educacional (DASE). É também finalista do Concurso Negro Educação e integrante da coordenação do programa Formação Gestão da Educação para a Equidade Racial, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT.

Com uma trajetória dedicada aos Direitos Humanos, à educação antirracista e à valorização das identidades negras, Adriane ressaltou que a convivência escolar só pode ser efetiva se for também equitativa. Em sua fala, a professora destacou que educar para os direitos humanos é garantir um ambiente escolar que valorize o respeito, a diversidade e a convivência pacífica.

Professora Adriane Damascena

“Quando falamos em educação para os direitos humanos, estamos nos referindo a uma formação que vai muito além do conteúdo curricular. Trata-se de preparar os estudantes para a vida em sociedade, desenvolvendo sua consciência crítica, seu senso de justiça e a capacidade de conviver com o que é diferente. A escola é, antes de tudo, um espaço de convivência. É ali que aprendemos, diariamente, a lidar com as diferenças de ideias, culturas, identidades, histórias de vida. E essa convivência precisa ser construída com base no respeito, na escuta e na empatia. Os conflitos fazem parte da nossa condição humana, são inevitáveis. O mais importante é como lidamos com eles. A mediação de conflitos, nesse sentido, não é apenas uma técnica, mas um processo pedagógico, uma oportunidade para o autoconhecimento e para o aprendizado sobre o outro”.

Ela ainda acrescentou que, quando o conflito não é trabalhado de forma adequada, ele pode se transformar em violência, como no caso do bullying, que infelizmente ainda é uma realidade nas escolas:

“É preciso compreender que esse tipo de violência muitas vezes está ligado a preconceitos estruturais, como o racismo, a homofobia, a gordofobia, o etarismo e tantos outros. O diferente não pode ser motivo de exclusão. Pelo contrário: é com o diferente que crescemos. Educar para a paz é, antes de tudo, educar para o reconhecimento da dignidade humana em todas as suas formas”, concluiu.

A palestra trouxe abordagens práticas sobre como implementar a mediação de conflitos nas escolas, desde rodas de conversa até a formação de comissões de mediação com participação de estudantes, professores e famílias.

Beneti Nascimento

O coordenador de Projetos Culturais da Elese, Beneti Nascimento, destacou a relevância do tema para o ambiente escolar:

“Esse tema, ‘Mediação de conflitos’, é um tema muito recorrente. Está presente na vida dos estudantes, dos professores. Volta e meia, a gente vê uma discussão em sala de aula, que acaba com a graça de pais, de alunos, aos professores ou professores com alunos. Então, a gente traz esse tema aqui pra Escola como uma forma de também, digamos, conscientizar os alunos da importância de poder saber como resolver os conflitos. Conflitos nunca vão acabar, sempre vão existir. Agora, precisa que as pessoas conheçam ferramentas adequadas, fazer o exercício da paciência, da tolerância, da respiração, para que os conflitos possam ser resolvidos da maneira mais pacífica possível. Essa é a ideia”.

A diretora da Elese, Telma Pimentel, reforçou o valor pedagógico da iniciativa:

Telma Pimentel

“Nesta edição, temos o privilégio de receber a professora Adriane, que vem compartilhar conosco uma palestra fundamental, num tema urgente, necessário e profundamente conectado com o cotidiano dos nossos jovens e educadores. Falar sobre conflitos é falar sobre a vida em sociedade. E, mais do que isso, é mostrar que os conflitos não são necessariamente algo negativo, eles existem, fazem parte da convivência humana. O que realmente importa é como escolhemos lidar com eles. E é aí que entram a comunicação, o diálogo e o respeito como caminhos possíveis e eficazes para resolver diferenças. Promover essa consciência entre os alunos é contribuir para a construção de um ambiente mais saudável, mais acolhedor e mais pacífico. Todos ganham com isso: estudantes, professores e toda a comunidade escolar”.

A gestora também ressaltou a importância do envolvimento dos estudantes:

“É por isso que acreditamos tanto na importância de iniciativas como essa aqui na escola. Que seja um momento rico e inspirador para todos nós!”

Vozes da escola

A professora de Sociologia do Colégio Tobias Barreto, Flávia Ferreira, também esteve presente com seus alunos e comentou a importância do projeto:

Professora Flávia Ferreira

“É muito importante um tema como esse, e sempre que a gente recebe o convite, a gente está aqui. Hoje o tema ‘mediação de conflitos’, que ressalta a questão do combate ao racismo, é importante porque, muitas vezes, talvez até na maioria, o problema de bullying, o problema de racismo, é que começa o gatilho para uma violência escolar.

Verdade, principalmente que, além de Sociologia, eu leciono com eles a disciplina de Cultura Afro-indígena. Então a gente está sempre falando sobre essa questão de preconceito, de discriminação, a importância de respeitar o outro, falando sobre a raiz desse preconceito, dessa discriminação e como lidar.”

A estudante Katharina Beatriz, do Colégio Tobias Barreto, também compartilhou sua visão:

Katharina Beatriz, estudante do C.E. Tobias Barreto

“É um assunto bastante importante para nós trabalharmos, pois hoje em dia acabaram generalizando o racismo na escola, acabaram colocando isso como uma brincadeira normal, que isso não é permitido, isso é lei. Então é um assunto bastante importante para conscientizar todos nós, alunos, que estamos estudando, para tomar cuidado com as nossas falas, tomar cuidado com as nossas atitudes, as brincadeiras sem graça. Então quero já parabenizar vocês por trazer esse assunto de suma importância para nós, alunos, e quero agradecer também por essa oportunidade.”

A presença de Adriane Damascena reforçou o compromisso da Alese com uma educação que valoriza a escuta, o respeito às diferenças e a construção de uma cultura de paz nas escolas. Idealizado para fomentar debates sobre equidade racial, justiça social e educação transformadora, o projeto “Quintas Negras”, em parceria com órgãos e profissionais comprometidos com a pauta da diversidade e dos direitos humanos, vem se consolidando como um espaço de escuta, aprendizado e fortalecimento de vozes negras no ambiente legislativo e educacional sergipano.

 

 

Fotos: Joel Luíz / Agência de Notícias de Alese