A religiosidade e a ancestralidade são pilares fundamentais das culturas humanas, influenciando tradições, valores e até mesmo a organização das sociedades ao longo da história. Desde os cultos aos deuses do Egito Antigo até os rituais contemporâneos das religiões de matriz africana e indígena, as divindades e suas celebrações revelam muito sobre como diferentes povos compreendem o mundo, a vida e a morte.

Martha Sales

Qual o papel dos rituais hoje? Como as divindades de antigamente ainda influenciam nosso cotidiano? Essas foram as pautas abordadas na edição de abril do projeto “Quintas Negras”, realizado pela Alese por meio da Escola do Legislativo Deputado João Seixas Dória (Elese) e que teve como convidada a Iyalorixá, professora licenciada em Sociologia pela UFS, Martha Sales.

Martha Sales

Especialista em Antropologia pela UFS/NPPGA. Pós-graduanda em Cinema e Linguagem Audiovisual. Membro do Núcleo de Pesquisa e Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi- UFS), Membro e sócio-fundadora da Sociedade de Estudos Étnicos, Políticos, Sociais e Culturais Omolàiyé e Sócio-fundadora e Coordenadora do Espaço de Arte, Cultura e Educação Omiró Casa de Mar. Essa notável sergipana, possui atuação em defesa dos Povos Tradicionais de Terreiro e alguns artigos científicos publicados. Teve seu 1º livro intitulado “Okum D’orin: a poesia que vem do mar”, lançado em 2022. Também roteirizou e dirigiu o filme/documentário “Eu, Oxum”, juntamente com a multiartista sergipana Héloa, sua filha.

Nesta oportunidade, Martha explicou para os alunos do Centro de Excelência José Carlos de Souza, e demais convidados, como essas práticas religiosas e espirituais se conectam com a ancestralidade, mantendo vivas memórias coletivas e fortalecendo identidades.

“A gente sabe que são temas, muitas vezes, espinhosos, né? E que nem sempre a gente consegue estar dialogando, trocando. Então, ter um espaço como esse, da Escola do Legislativo, é importante para a gente poder desmistificar preconceitos, combater o racismo, o racismo religioso. Então, falar da religiosidade, principalmente religiosidade afro-brasileira, ancestralidade, ritos, divindades, trazer essa informação e conhecimento para poder desmistificar muitas coisas que ficam no imaginário das pessoas e os estudantes que estão em formação precisam absorver, adquirir esse conhecimento”, pontuou.

Além disso, discutiu-se o papel dessas tradições na atualidade: como elas resistem à globalização, como são reinterpretadas pelas novas gerações e de que forma dialogam com questões contemporâneas, como a preservação ambiental e o combate ao preconceito religioso.

Professora Patrícia Moraes

A professora de história, Patrícia Moraes, considerou o encontro de fundamental importância, inclusive, para o despertar da consciência, da cidadania.

“Há, inclusive, muita falta de informação, equívocos que foram fundamentados ao longo da história, inclusive sobre religiões, por exemplo, não cristãs. E essa participação aqui serviu para conscientizá-los, enquanto cidadãos, enquanto seres humanos, aprofundando inclusive o respeito à diversidade, à pluralidade e à inclusão. Isso para mim é muito mais importante. Eu trabalho especificamente com duas disciplinas temáticas, relacionadas ao tema exposto: uma é voltada para Direitos Humanos e Cultura afro-indígena e a outra é Minorias Sociais – suas lutas e conquistas. Portanto, nós tratamos justamente destes grupos que foram minorizados ao longo da história do nosso país”, explicou a professora.

O aluno Pedro Alexandre, afirma ter achado muito pertinente trazer essa temática e abordá-la com os seus colegas. “Porque é um tema muito relevante, tanto hoje em dia, como todo sempre, precisa ser discutido com nós estudantes, porque é bom que todos saibam do nosso passado, saber da nossa história, toda essa nossa trajetória, nossas conquistas, dos meus ancestrais. E que muita gente acaba não sabendo dessa história por conta da falta de acesso. E trazer alunos para eventos como esse é muito relevante, porque faz com que eles expandam a sua mente, expandam a sua visão em relação a essa temática que às vezes não é tratada na escola, ou nem mesmo em casa, porque é, geralmente, negligenciado, então trazer isso para os alunos é dar a devida valorização à temática”, disse.

O Coordenador de Assuntos Culturais da Elese e Curador do Espaço Cultural Deputado Djenal Queiroz, Beneti Nascimento, deu sua opinião sobre mais uma aula proporcionada pelo projeto “Quintas Negras”.

Beneti Nascimento

“Não só estes alunos, como todos nós, tivemos aqui a oportunidade de aprender com alguém que tem uma tradição religiosa e, ao mesmo tempo, tem o conhecimento do ponto de vista acadêmico. A gente costuma dizer que o preconceito acontece quando você não conhece o tema a que você se refere ou que estão lhe referindo. Então, quando você traz uma socióloga com essa capacidade de discernimento, de compreensão, de entendimento, de fala, a gente proporciona aos alunos, aos estudantes da escola pública, a possibilidade que eles aprendam, que eles sejam, digamos, despertados para esse conhecimento, ao longo do trajeto em sala de aula, para que possamos dissipar ou minimizar esses efeitos tão danosos que são trazidos pelo preconceito”, definiu Benneti.

 

 

Fotos: Jadilson Simões / Agência de Notícias Alese